segunda-feira, 4 de março de 2013

[Maratona Sandman] Sandman #23

Estação das Brumas
Capítulo 2

"Eu escuto. Silêncio, puro e mortal. Sinto, com minha mente. Coisa alguma"

Morfeus chega ao Inferno para livrar Nada de sua penitência eterna. Mas, ao invés da recepção hostil que esperava, ele encontra Lúcifer prestes a esvaziar o Inferno e renunciar o seu título de Príncipe desse domínio.

Comentários | Contrariando todas as expectativas, a chegada de Sandman ao Inferno não resultou na temida e esperada batalha contra Lúcifer. Ao invés disso, Lúcifer agiu de maneira totalmente inesperada ao liberar todas as almas e renunciar aos domínios do Inferno. Por isso, é previsível supor que essa foi uma das melhores histórias da série até aqui, justamente devido a essa quebra de expectativa. Mas a edição revela muitos outros atrativos que merecem destaque. Pra começar, Lúcifer se revelou um personagem interessante e, acima de tudo, enigmático. Suas intenções com o fechamento do seu reino ainda são obscuras, apesar de ser provável que tudo está cumprindo seu papel no que tange se vingar do Senhos dos Sonhos.


A edição toda é praticamente construída sobre os diálogos entre Sandman e Lúcifer. Este, por sinal, eclipsou a figura do Rei dos Sonhos e foi o destaque da história, ao passo que o raciocínio exposto por ele é quase irresistível. Ele apresenta também um carisma até então desconhecido, que parece envolver o próprio Morfeus, que fica praticamente sem palavras ante a decisão dele de fechar o Inferno.

De fato, tudo nessa altura da trama foi inesperado. Desde a renúncia ao Inferno, até o ato de Lúcifer em cortas as próprias asas e se lançar rumo a um futuro desconhecido. Mas nada se compara aos últimos quadros da edição em que Lúcifer entrega as chaves do Inferno a Morfeus, o fazendo Senhor de um reino vazio e fechado. Não é preciso elucubrar muito para imaginar as consequências terríveis que esse ato implicará.

Dentro do universo de Sandman ficou claro o papel exercido pelo Inferno em servir de abrigo para as almas condenadas e inquietas. Agora, libertos e sem um reino para habitar, eles estão livres para até mesmo voltar para o plano da existência terrena. Ao entregar as chaves para Morfeus, Lúcifer jogou a responsabilidade do Inferno em suas mãos. "Talvez eu devesse ter lhe dado a chave com meus votos de sucesso. Eu poderia ter dito que esperava que ela lhe trouxesse felicidade. Mas de certa forma, de alguma forma, eu duvido que traga".

Assim se deu um dos melhores ganchos que já li nos quadrinhos. Poucas vezes vi uma vingança ser tão bem calculada e executada, quase que em um ritmo hipnótico, desembocando em uma conclusão tão inevitável quanto grave. E Estação das Brumas está apenas no início.

Sandman #23
***** (9,5)
DC Comics | janeiro de 1991
Roteiro: Neil Gaiman
Arte: Kelley Jones
Arte-Final: Malcolm Jones III

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