terça-feira, 5 de março de 2013

[Review] Sin City: A Cidade do Pecado | Frank Miller

Sin City é um dos maiores sucessos dos quadrinhos, certamente a da Dark Horse, sua editora. Depois de ser publicada no Brasil pela Globo e Pandora Books, a Devir relançou o álbum em 2004. Em 2012 ela ganhou sua terceira reimpressão, o que fez a história voltar a dar às caras nas livrarias. Não podia deixar de aproveitar a oportunidade de ler esse quadrinho antológico, que já ganhou uma fiel adaptação cinematográfica, com continuação prevista ainda para 2013.

A Cidade do Pecado foi a primeira história de Sin City a ser lançada. Publicada a partir de 1991 na revista Dark Horse Presents e na esteira da avassaladora fase pela qual passava Frank Miller (que estava em seu auge artísitico), The Hard Goodbye lançou as bases para toda a inventividade pela qual a série ficou marcado com o tempo. Na época, Miller já era um nome de peso na indústria. O sucesso angariado com sua passagem pela revista do Demolidor, além das graphic-novels O Cavaleiro das Trevas e Batman - Ano Um, proporcionaram ao autor a oportunidade de produzir um material de pegada mais autoral e adulta. Seu prestígio estava nas alturas e a Dark Horse se mostrava a casa ideal para lançar seus novos projetos.

Isso porque parece improvável que algumas das grandes editoras americanas, Marvel ou DC, se dispusessem a publicar Sin City, mesmo sob os seus respectivos selos de séries adultas. Tudo na série transmite uma sensação de perversão, violência, volúpia, enfim, pecado. O preto que Miller pinta quase com agressividade mostra uma cidade misteriosa, traiçoeira, onde o perigo parece espreitar a cada quadro: "Entre no beco certo em Sin City e você pode encontrar qualquer coisa..."

A Cidade do Pecado conta a saga de vingança de Marv. Logo após a primeira noite com aquela mulher que  lhe fez sentir como nenhuma outra ousou em tentar, ela aparece morta ao seu lado. Goldie era seu nome, e sua morte foi fruto de um silencioso assassino que deu cabo em sua vida enquanto dormiam juntos. Marv não faz a mínima ideia do que causou o assassinato dela, apenas uma coisa ficou bem clara em sua cabeça após o ocorrido: os responsáveis iriam padecer dolorosamente em suas mãos. A partir de então ele se põe a vasculhar o submundo atrás de pistas, apenas com a ajuda inicial de Gladys, sua arma.

Miller é visceral em descrever a trajetória de sangue e violência que Marv deixa pelo caminho. Não se trata somente daquela improvável saga do brutamontes que busca vingança, Marv é um sujeito bastante consciente de suas limitações e, por isso, sabe muito bem o quanto essa busca irá lhe custar. Mas ele pouco importa, pois está disposto a morrer pela mulher que, ainda que por apenas uma noite, o fez feliz. E, de fato, esse custo chega, e de forma tão intensa quanto foi sua investida.
























Está clara a preocupação em não fazer de Marv um herói. Todos na história são pessoas tortas, infames e sem escrúpulos. Quando mais Miller desce a fundo nos meandros de Sin City (que, na verdade, se chama de Basin City), mais irreversível aparenta ser a terrível situação moral em que o lugar está mergulhado. Tudo isso, inclusive, é reconhecido pelo próprio Marv nos seus diversos monólogos durante a trama

Não é somente o roteiro de Miller que impressiona, em que demonstra todo o seu talento em empolgar o leitor, mas sua arte também se faz digna de nota. É curioso como os seus desenhos parecem ser tão simples e minimalistas ao mesmo tempo em que são tão intensos e cheios de significado. Miller faz miséria com seu preto borrado.

A nova edição lançada pela Devir no ano passado vem com uma nova tradução, além de extras inéditos, como capas e materiais publicitários desenhados pelo próprio Frank Miller. Contudo, nada que justifique uma nova compra para quem já tiver uma das edições anteriores.


Sin City: A Cidade do Pecado
Sin City: A Hard Goodbay
**** (8,5)
Dark Horse | junho de 1991 a junho de 1992
Devir | agosto de 2012 (3ª edição)
Roteiro e Arte: Frank Miller

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